quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Caminhos para a leitura

A especialista em literatura infanto-juvenil da Universidade Autônoma de Barcelona, Teresa Colomer, em passagem por São Paulo na última semana, contagiou e instigou uma platéia composta por cerca de 600 educadores a motivar a leitura em suas salas de aula.


Ao participar do Seminário “Prazer em Ler”, promovido pelo Instituto C&A em parceria com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Teresa destacou que não há uma receita básica para a formação de leitores nas escolas públicas, mas sugeriu alguns possíveis caminhos para que os educadores, e até mesmo os pais, possam fazer com que o livro se torne um objeto atraente para crianças e adolescentes.

Na ocasião, a especialista também lançou a versão traduzida de seu livro Andar Entre Livros. Uma Leitura Literária na Escola”, que discute caminhos para a promoção da leitura literária nas escolas.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Teresa ao JT.

A senhora afirma que não há uma receita básica para despertar o prazer em ler nas crianças. Mas quais seriam os possíveis caminhos a serem seguidos pelos professores?

Cada professor, em cada contexto, tem de buscar as próprias soluções. A leitura pode ser diária ou não. Uma hora semanal na biblioteca já é uma atividade respeitável se combinada com pequenas ações de leitura durante a semana.

O certo é que a escola foi inventada para ensinar a ler e escrever. Se as crianças não lêem ou escrevem nela é como se quiséssemos nadar em um lugar sem piscina.

O que é melhor: ler muitos livros ou ler pouco, mas ler bem?

Acredito que nesse sentido há um monte de equívocos. Um deles é pensar que o importante é que os jovens leiam qualquer coisa, desde que leiam. Isso é importante em alguns aspectos, como aquisição técnica da leitura ou de construção de sua imagem como leitor. Mas se só se lêem livros fáceis ou de baixa qualidade, o jovem pode se manter assim para sempre.

Outro erro é pensar que é melhor ler pouco e bem. Sabemos que para criar o hábito é necessário ter uma certa quantidade de leitura. Porque, além disso, só se aprecia o que é de boa qualidade ao comparar a obra lida com um horizonte construído por meio de muitos livros que mostram o que podemos esperar da literatura.

Mais um erro é pensar que as crianças de 8 ou 9 anos não precisam mais de ajuda para ler. Esse é um momento delicado, porque passamos a exigir que eles leiam. Para as crianças novas, que ainda não lêem tão bem, são oferecidos livros mais simples. Mas é necessário ter livros curtos e fáceis de ler para os oferecer, em caso de dificuldades ,para os alunos mais velhos.

Outro equívoco é pensar que a escola tem a mesma missão que a biblioteca pública na promoção da leitura e que tem que repartir responsabilidades prioritárias. A escola deve ensinar a ler, ensinar o que fazer para poder ler um texto que inicialmente parece difícil, ensinar que um texto diz coisas nas entrelinhas, etc. A biblioteca não faz nada disso e pode se dedicar espontaneamente à promover a leitura livre.

Em sua palestra você citou o desenvolvimento de uma bibliografia coletiva feita por uma classe de alunos que apresentavam problemas de relacionamento. Eles se dividiram em grupo e cada um escreveu capítulos sobre a trajetória da turma. Como se deu o projeto?

Esse projeto se destaca por provar que se pode educar literariamente (neste caso a escrita) de forma associada com outras atividades e objetivos educativos e sem instrumentalizar a literatura, já que nesse projeto o trabalho literário era muito consistente. A elaboração literária da experiência do grupo contribuiu para a melhoria das relações, não somente porque eles refletiram sobre os conflitos, mas sim porque passaram a trabalhar em algo comum que os unia. Todos queriam que a história da classe ficasse muito bem escrita e tivesse lugar em um livro que eles levariam como recordação e que ficaria na biblioteca da escola.

http://txt.jt.com.br/editorias/2007/08/27/opi-1.94.8.20070827.10.1.xml

Jornal da Tarde

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