segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Diversidade Cultural


Eu apresentei com alguns alunos da Escola o teatrinho da Menina bonita do laço de fita (Ana Maria Machado) no evento sobre a Diversidade Cultural. Como vocês podem ver ficou lindo. Parabéns aos alunos participantes que deram um show de interpretação.

Menina bonita do Laço de Fita Para saber mais sobre as edições,


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O livro Menina Bonita do Laço de Fita é, junto com o Bisa Bia, Bisa Bel, um dos livros mais premiados e traduzidos da obra de Ana Maria Machado. Assim como o Bisa Bia, ele também é uma fonte aparentemente inesgotável de experiências vividas pelos leitores, como a Ana conta nesse trecho de uma palestra dada em setembro de 1996, no Congresso da Sociação de Literatura Infantil em Montevidéu e reproduzida na íntegra no livro Contracorrente.


As professoras da Secretaria de Estado de Educação, na cidade do Gama/DF, Marluce Paula de Oliveira Martins e Lucimeire dos Passos Costa criaram esse avental de feltro com os personagens do livro em homenagem à Ana Maria e sua Menina Bonita.

Até uma música, que as crianças não param de cantar, foi composta dentro do trabalho com o livro.



Com a palavra, Ana Maria Machado:

“Este livro, para mim, é uma história que surgiu a partir de uma brincadeira que eu fazia com minha filha recém-nascida de meu segundo casamento. Seu pai, de ascendência italiana, tem a pele muito mais clara do que a minha e a de meu primeiro marido. Portanto, meus dois filhos mais velhos, Rodrigo e Pedro, são mais morenos que Luísa. Quando ela nasceu, ganhou um coelhinho branco de pelúcia. Até uns dez meses de idade, Luísa quase não tinha cabelo e eu costumava por um lacinho de fita na cabeça dela quando íamos passear, para ficar com cara de menina. Como era muito clarinha, eu brincava com ela, provocando risadas com o coelhinho que lhe fazia cócegas de leve na barriga, e perguntava (eu fazia uma voz engraçada): “Menina bonita do laço de fita, qual o segredo para ser tão branquinha?” E com outra voz, enquanto ela estava rindo, eu e seus irmãos íamos respondendo o que ia dando na telha: é por que caí no leite, porque comi arroz demais, porque me pintei com giz etc. No fim, outra voz, mais grossa dizia algo do tipo: “Não, nada disso, foi uma avó italiana que deu carne e osso para ela...” Os irmãos riam muito, ela ria, era divertido. Um dia, ouvindo isso, o pai dela (que é músico) disse que tínhamos quase pronta uma canção com essa brincadeira, ou uma história, e que eu devia escrever. Gostei da idéia, mas achei que o tema de uma menina linda e loura, ou da Branca de Neve, já estava gasto demais. E nem tem nada a ver com a realidade do Brasil. Então a transformei numa pretinha, e fiz as mudanças necessárias: a tinta preta, as jabuticabas, o café, o feijão preto etc.



Ilustração de Hélène Moreau para a edição da Vents dáilleurs

"Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava parecendo uma princesa das Terras da África, ou uma fada do Reino do Luar."

O livro faz muito sucesso e foi traduzido em vários países. Onde, evidentemente, foi encontrando leituras ideológicas distintas e variadas.

Na América Latina, região acostumada a misturas e mestiçagens, teve a honra de ser recomendado e incluído em premiações e seleções de melhores obras na Venezuela, na Colômbia, na Argentina.

Na Suécia, também teve uma recomendação especial nas bibliotecas públicas, como um exemplo de convívio multicultural e pluriétnico.

Em outro país nórdico, na Dinamarca, uma funcionária muito militante, do setor de bibliotecas, o condenou e recomendou que as bibliotecas não o comprassem, porque o livro sugere que negros e brancos vivam em paz como bons vizinhos, sem que os negros lutem por seus direitos e façam valer suas reivindicações daquilo que a sociedade lhes nega. Para ela, o livro seria uma desmobilização da luta e uma incitação ao conformismo.


Ilustração de Alberto Llinares Martin para a Revista Alegria, da Editora Abril


"-Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
-Ah, deve ser porque eu comi muita jaboticaba quando era pequenina."

Nos Estados Unidos, num debate com professoras primárias em Wisconsin, uma delas pediu a palavra e disse que achava espantoso que eu tivesse a coragem de associar numa mesma história uma menina negra e um coelho, quando todos sabem que o coelho é um símbolo de promiscuidade sexual e proliferação e que essa associação era ofensiva aos negros. Mesmo se levássemos em conta que eu sou latina e que essas questões de promiscuidade não nos assustam tanto em nossa cultura, De tão estupefata, fiquei sem reação no primeiro instante, e não sabia o que responder. O que foi muito bom, porque meu silêncio permitiu que outra professora, e esta era negra, me defendesse frente à primeira, branca e loura. Contou que seus alunos tinham lido o livro e ficaram encantados, adoraram se reconhecer como bonitos e donos de um padrão invejável de beleza, capaz de obcecar um amiguinho branco.

No norte do Brasil, numa livraria de Belém, apresentou-se a mim uma vendedora negra e linda, dizendo: “Muito prazer, eu queria muito conhecer você. Eu sou a Menina Bonita do Laço de Fita”. E contou que dez anos antes o livro fora para em suas mãos por acaso e ela o leu. Achava que era bonita e deliciou-se em ver que os livros reconheciam isso e eram capazes de mostrá-la linda. Identificou a leitura com verdade, coragem, e como uma espécie de espelho mágico, que a refletia e revelava como sabia que era, mas nem sempre era vista pelos outros. Interessou-se por livros, não tinha dinheiro para comprá-los, foi trabalhar numa livraria para aproveitar os momentos livres e ler tudo que lhe caísse nas mãos. Acabava de convencer o patrão a abrir a primeira livraria infantil da Amazônia sob sua responsabilidade.

A menina bonita que inspirou o livro, quem diria, era branquinha, branquinha...


Ana Maria com a filha Luísa



Posso falar de outras leituras, mas não há muito tempo, nem é o caso. Estas bastam para atestar o que eu gostaria de ver discutido aqui. Um livro não é apenas aquilo que está escrito nele, mas também a leitura que o leitor faz desse texto. Os dois processos são ideológicos. Os dois pressupõem uma determinada visão do mundo. Para que o livro tenha um potencial rico, com muitas significações, é necessário que seja cuidado, tenha qualidades estéticas, seja um exemplo de criação original e não estereotipada. Mas, para que esse livro possa manifestar esse seu potencial, torná-lo real, é indispensável que encontre um leitor generoso que possa fazê-lo dialogar com muitas outras obras, com visões do mundo enriquecidas pela pluralidade e pela aceitação democrática da diferença. Somente dessa maneira o livro deixará de ser um ponto de chegada para se transfomar num ponto de partida permanente para outras leituras – de textos e do mundo. Ou dos inúmeros e inumeráveis mundos que existem, que não queremos mais que continuem existindo ou que sonhamos que um dia possa vir a existir.”

FONTE: http://www.anamariamachado.com/

Um comentário:

  1. Do you dream of waking up the next morning and seeing yourself rid off chubbiness? You wish the fat is vanished without any exertion or strenuous routine, but still haven’t been able to sort out the fact of how to grasp this miracle.http://phen375loss.co.uk/

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