sábado, 17 de outubro de 2009

Leitura e interpretação
Atividades para que a aprendizagem se torne um ato de prazer

•LUCIANE KNÜPPE
Licenciada em Pedagogia com Habilitação
em Supervisão Escolar.
Especialista em Educação Infantil.
Porto Alegre/RS.
E-mail: knuppe@cpovo.net

A interpretação de texto é uma atividade que ocorre em todos os
níveis escolares e, toda vez que a
proposta é lançada em sala de
aula, é comum ouvirmos murmúrios,
tais como: De novo! Ah!
Não! Eu não gosto de interpretação
de texto!
Mas, o que pouco sabemos é
sobre as origens deste desconforto.
Em primeiro lugar, necessitamos
saber o porquê de os alunos
resistirem tanto a este tipo de trabalho.
Tais resistências podem ter
surgido da maneira como é imposta
a interpretação, ou pelo fato
deles apresentarem pouca concentração
ou, ainda, por não conseguirem
compreender o que leram.
De acordo com os estudos
de Vygotsky, o pensamento não se
expressa apenas em palavras, ele
se torna presente por meio delas,
criando assim alicerces que geram
maior compreensão.
Cagliari nos diz que o segredo
da alfabetização é a leitura. Talvez
mais um motivo desse desconforto:
o pouco incentivo à leitura oferecido
aos alunos, na fase da alfabetização.
Segundo o autor, o leitor
deverá em primeiro lugar decifrar
a escrita, depois entender a
linguagem encontrada, em seguida
decodificar todas as implicações
que o texto tem e, finalmente,
refletir sobre isso e formar o
próprio conhecimento e a opinião
a respeito do que leu.
Para Ferreiro e Teberosky, a
causa principal das dificuldades
de compreensão do conteúdo da
leitura é o domínio imperfeito da
mecânica da leitura.
É comum encontrarmos alunos,
e até mesmo adultos formados,
capazes de lerem reportagens
em jornais e artigos em revistas
e não entenderem nada daquilo
que leram.
O trabalho com a interpretação
não acontece apenas na área da
Língua Portuguesa, mas em todos
os campos de nosso aprendizado
escolar. Muitos pesquisadores
atribuem a dificuldade na Matemática
à interpretação das situações-
problema ou das ordens dos
exercícios. Isto é mais uma prova
de que devemos atribuir uma atenção
especial a este assunto.
Segundo Vygotsky, um estudo
mais profundo do desenvolvimento
da compreensão e da comunicação
na infância levou-nos à conclusão
de que a verdadeira comunicação
requer significado, ou
seja, só compreende o que lê aquele
que consegue entender o significado
das palavras. Assim, concluímos
que primeiro é preciso
compreender aquilo que estamos
lendo para, depois, conseguirmos
interpretar a leitura feita.
É necessário, ainda, incentivar
nossos alunos, por meio de uma
atitude questionadora que favoreça
a leitura como um processo
mental, oferecendo exercícios de
compreensão e discussão sobre o
que foi lido.
De início, o aluno lê o texto,
compreende aquilo que leu e somente
depois consegue fazer a
sua interpretação.

O que isto quer dizer?
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REVISTA DO PROFESSOR,
16
Porto Alegre, 21 (82): 15-17, abr./jun. 2005
O primeiro passo para este desafio
é a escolha dos textos e dos
livros infantis trabalhados em sala
de aula. Precisamos trazer temas
e assuntos interessantes que façam
parte da realidade infantil.
Cagliari contribui com a idéia
de que alunos que só lêem livros
de histórias de fantasia dificilmente
depois vão ler um livro de
matemática ou de história diferente
do livro-texto adotado pelo
professor nas séries mais adiantadas.
A escola precisa saber trabalhar
com essa situação, incentivando
o aluno a realizar os mais
variados tipos de leitura para que,
no futuro, possam vir a ser pessoas
capazes de compreenderem
e enfrentarem a sua realidade.
Lembramos que as crianças
desta faixa etária estão muito presas
a leituras que envolvem a fantasia,
principalmente os clássicos
contos de fadas.
Assim, nós, professores, devemos
propiciar às crianças o contato
diário com os livros, para que
possam manuseá-los e explorá-los,
despertando a vontade e o
gosto de ler, aproximando-os do
mundo da leitura.
Para uma leitura infantil, sugerimos
textos que abordem a linguagem
das crianças, histórias em
quadrinhos, instruções de trabalho,
encarte de jornais, reportagens
simples, catálogos de propaganda
e textos produzidos por elas
mesmas, de modo que possam ser
devidamente trabalhados com a
criança.
Para que nossos alunos se sintam
desafiados a interpretarem o
texto que leram, precisamos propiciar
atividades criativas, que
estimulem o prazer pelo querer
ler mais e atribuam um importante
papel aos livros e leituras no
sistema educacional; textos que
despertem o interesse pelos enredos
e pelo destino dos personagens.
Deste modo, facilitaremos
a compreensão e a interpretação
dos textos lidos.
O procedimento de interpretação
de texto vai além de perguntas
óbvias, questionamentos inúteis
ou as cansativas fichas de leitura.
Precisamos encontrar meios
de aplicá-las em um trabalho sério
e prazeroso. Assim, como alternativas
de trabalho podemos
sugerir:
• a discussão do assunto com os
alunos;
• o recontar a história a sua maneira;
• o transformar aquilo que leram
numa dramatização;
• o ilustrar e o desenhar figuras
para as histórias que leram.
É comum entrarmos em uma
sala de aula do ensino fundamental
e encontrarmos o quadro com
um texto escrito e várias perguntas
sobre ele. Não podemos esquecer
que uma atividade desgastante
ou repetitiva, em vez de gerar
prazer, transforma-se em algo
traumatizante que poderá acarretar
o afastamento do ato de ler na
vida adulta. Bamberger diz que a
superutilização dos exercícios
mecânicos poderá estragar o prazer
que advém da leitura.
É importante ressaltar que o
professor deve tomar muito cuidado
com a idéia de que toda vez
que se trabalha um texto há a interpretação
do mesmo, pois as
crianças poderão sentir um pouco
de antipatia pela leitura, uma
vez que já começam a ler pensando
na série de perguntas que
vem depois.
Algumas atividades, como as
sugeridas a seguir, poderão auxiliar
no trabalho com interpretação
de texto em sala de aula.
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
ö Cartaz-surpresa
Objetivo
• Por meio do brincar, interpretar
texto ou história lidos.
Procedimentos
• O professor conta uma história
ou pede para os alunos lerem um
texto sem ilustração. É preciso
que as crianças estejam motivadas
e curiosas para descobrirem a
ilustração da história. No quadro,
é preso um cartaz com uma ilustração
ou comum desenho do personagemprincipal.
Sobre este cartaz
serão presas faixas de papel
com perguntas criativas e interes-
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REVISTA DO PROFESSOR, abr./jun. 2005
17
Porto Alegre, 21 (82): 15-17,
santes sobre a história. Do lado
que fica para dentro estão as perguntas
e do lado exposto aos alunos
é escrito um número em cada
faixa. Assim, o professor solicita
que um determinado aluno diga um
número correspondente a uma das
faixas presas sobre a ilustração. A
faixa correspondente ao número
dito é aberta num dos lados e a
pergunta do verso, lida pelo professor.
Se o aluno responder à pergunta
de acordo com a interpretação
feita da história, retira-se a
faixa e uma parte da ilustração é
visualizada, caso contrário, a faixa
permanece. O suspense gira em
torno de descobrirem qual o desenho
do cartaz sob as faixas de
papel.
ö Texto com Fichas
Objetivo
• Produzir texto com auxílio de fichas
com palavras.
Procedimentos
• Usando a técnica do cloze, o
professor apresenta um texto
com várias lacunas, nas quais estão
faltando palavras importantes
e sugere que retirem, debaixo do
assento de algumas cadeiras, fichas
onde constam diferentes palavras
(o professor deve colá-las
antes de começar a aula). Um aluno
é escolhido para ler o texto,
enquanto o restante da turma vai
encaixando as fichas. O interessante,
nesta atividade, é que a interpretação
habitual do final da
leitura não precisará acontecer,
pois ela ocorreu durante a leitura:
os alunos precisaram pensar
e interpretar aquilo que estavam
lendo para poderem encaixar as
palavras.
Variável
• O professor poderá oferecer outras
palavras que não faziam parte
do texto original, colando-as embaixo
das mesas, por exemplo, aumentando
assima criatividade dos
alunos em encaixá-las no texto.
ö Jogo de Trilha
Objetivo
• Interpretar a história com auxílio
de brincadeira.
Procedimentos
• O professor conta uma história
aos alunos. Ele poderá utilizar,
como recurso, fantoches, cartazes,
varal ou simplesmente o livro.
Após a leitura, o professor
apresenta um jogo de trilha em
um tabuleiro contendo vários caminhos
(que são identificados por
numerais) e fichas com questionamentos
criativos e interessantes
sobre a história. Os alunos, divididos
em grupos, jogam o dado
e começam o jogo. Mas, durante
o caminho, quem parar sobre os
obstáculos (desenhos feitos sobre
alguns caminhos) deverá virar uma
ficha e responder à pergunta sobre
a interpretação da história. Se
a criança que parou no obstáculo
virou a ficha, leu a pergunta e respondeu
de acordo com a interpretação
feita da história, então, poderá
jogar novamente, caso contrário
permanecerá no mesmo lugar.
Já as crianças que parar em sobre
os caminhos que estão representados
por números continuarão
jogando, não precisando responder
às perguntas referentes à
história. O interessante nesta atividade
é que o papel do professor
é apenas de observador, pois são
os alunos que avaliarão se as respostas
interpretativas estão de
acordo ou não com a história.
A proposta da interpretação de
texto de uma maneira oposta à tradicional,
que ora apresentamos,
gera um pouco de trabalho e de
empenho por parte do professor.
Então, ela só será realmente útil
e eficaz, se este mesmo professor
estiver, de fato, motivado.

REFERÊNCIAS
BAMBERGER, Richard. Como Incentivar o
Hábito de Leitura. 7. ed. São Paulo: Ática, 2001.
CAGLIARI, Luiz C. Alfabetização e Lingüística.
10. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
______. Alfabetizando sem o Ba-bé-bi-bó-bu.
São Paulo: Scipione, 1999.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese
da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed,
1999.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem.
São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Nota: O obstáculo pode ser o desenho de algum personagem da história.
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